Ciência e Religião. É possível essa combinação?

Por Manoel Felizardo dos Santos | 26/07/2010 | Arte

Manoel Felizardo dos Santos (Doutorando em Ciências da Educação)

Palavras chave: Ciência ? Religião ? Humanidade

A religião e a ciência tornam-se explícita a essência humana, pois o poder físico e o poder espiritual, não estão limitados a pequenos princípios de questões de transcendente, mas, sim, afeta o comportamento tanto dos indivíduos, quanto da população, sendo que a ciência promove o bem estar material através das invenções, das descobertas e avanços tecnológicos e no campo político e social, já a religião complementa a ciência: promove o equilíbrio espiritual através dos bons costumes, do caráter das virtudes e da ética. A ciência está intimamente ligada à religião que também é feita de humanos, sendo que os humanos são feitos de atitudes e pensamentos.

Introdução
Este artigo trata preliminarmente da discussão entre a ciência e a religião, abordando temas conflituosos de aceitação de descobertas e também da Fé. Entende-se que o pensamento humano sempre busca respostas dos anseios e da procura da sua essência plena. É através desses questionamentos que procuramos demonstrar a pretensa limitação de uma pesquisa na explicação da totalidade humana e na sua realidade na busca da fé, e também nas explicações científicas, buscando o conhecimento das idéias do infinito e sua imanência. Sem esquecer as conseqüências sociais desse fundamentalismo científico da razão e a procura da fé na religião.
A revolução científica que caracterizou o novo começo da história é resultado de transformações culturais, políticas econômicas e filosóficas desde 1453. Na verdade o período da modernidade vai se estender até o século XVIII e é marcado profundamente pela expansão marítima, pela reforma e pelo renascimento. Por exemplo, de René Descartes (1596-1650) questionando o pensamento de Aristóteles (384 ? 322) e o escolasticismo de Tomás de Aquino (1225- 1274) é um fator importante na consolidação do pensamento moderno. Contudo o chamado novo que começa para o europeu significou a destruição de outros povos e conseqüentemente de outras epistemologias. Eis o que diz Enrique Dussel (1993): [...] A invasão e a subseqüente colonização, foram excluindo da comunidade de comunicação hegemônicos muitos rostos, sujeitos históricos, os oprimidos... Eles são a outra face da modernidade [...] (Dussel, 1993; p.159).
Desenvolvimento
A Fé, pelo menos a fé bíblica, não é de maneira alguma, contra a ciência. Pelo contrário, do ponto de vista teológico, a fé incentiva e exige a ciência no que se refere geralmente de qualquer busca pela verdade e no que se refere especificamente da incumbência humana de classificar, compreender e explicar abstratamente a natureza (Genesis 2, 19-20). Ciência e Religião tratam de áreas não sobrepostas do conhecimento humano. Nem a existência de Deus e nem a sua existência. São mutáveis de prova científica e equiparam ciência ao abandono da religião se enquadra aos preconceitos dos proponentes do design inteligente e de outras teorias de base criacionista. Todas as questões de moralidade contidas na imutável lei espiritual de todas as religiões são logicamente exatas. Se a religião fosse contrária a razão lógica, então deixaria de ser religião para ser simplesmente tradição. Religião e ciência são duas asas sobre as quais a alma humana pode progredir. Não é possível voar com uma asa apenas. Se um homem tentasse voar unicamente com a asa da religião, cairia imediatamente no pântano da superstição, enquanto por outro lado, somente a asa da ciência, também nenhum progresso faria, antes se afundaria no lodaçal desesperador do materialismo. Todas as religiões dos dias presentes têm descido às práticas supersticiosas, em desarmonia igualmente com os verdadeiros princípios do ensinamento que representa e com as descobertas científicas do tempo.
O Compêndio do Vaticano ll em suas encíclicas e nos seus documentos perceberam o quanto a igreja aplaude e apóia todo o progresso científico que não ponha em jogo valores humanos e eternos. Constatamos isso no catálogo dos inventores padres que deram sua contribuição para a ciência: pólvora, genética, vidro, lentes, astronomia e tantos outros no campo da pesquisa. Para a religião não há contradição. Ela não contradiz a ciência, mas também não se submete a certas pretensões da mesma de exigir provas materiais ou lógicas para o que não é matéria e paira acima da lógica humana. Por isso mesmo ninguém é obrigado a crer. A fé é fruto de opção e de uso consciente da liberdade de que busca o porquê em Deus que é infinito. Albert Einstein (1879-1955), físico judeu alemão, criador da teoria da relatividade, prêmio Nobel em 1921, afirma:
"Todo profundo pesquisador da natureza deve conceber uma espécie de sentimento religioso, pois não pode admitir que ele seja o primeiro a perceber os extraordinariamente belos conjuntos de seres que ele contempla. No universo, incompreensível como ele é, manifesta-se uma utilização superior e ilimitada ? A afirmação correta de que em um ateu, baseia-se sobre grande equívoco. Quem quisesse depreender de minhas teorias científicas, não teria compreendido o meu pensamento."
O Físico alemão e pesquisador da energia atômica, Werner Von Braum (1912- 1977) justifica com maestria:
"Não se pode de maneira alguma justificar a opinião de vez em quando formulada, de que a época das viagens espaciais tem conhecimento da natureza tais que já não precisamos crer em Deus. Somente uma renovada fé em Deus pode provocar a mudança que salve da catástrofe o nosso mundo. Ciência e Religião são, pois, irmãs e não pólos antiéticos".
M.Hartmann (1876-1962), Diretor do Instituto de Biologia Max Planck diz:
"Os resultados da mais desenvolvida ciência da natureza ou da física não levantam a mínima objeção a fé num poder que está por trás das forças naturais e que as rege. Tudo isto pode aparecer, mesmo no mais crítico pesquisador, como uma grandiosa revelação da natureza, levando-o a crer numa toda poderosa Sabedoria que se acha por trás desse mundo sábio."
Gugliermo Marconi (1874-1937), físico italiano, inventor da telegrafia sem fio, Prêmio Nobel em 1909, disse: "Declaro com ufania que sou homem de fé. Creio no poder da oração. Creio nisto não só como fiel cristão, mas também como cientista."
Thomas Alva Edison (1847- 1931), inventor do campo da física com mais de 2000 patentes diz: "Tenho enorme respeito e a mais elevada admiração por todos os engenheiros, especialmente pelo maior deles: Deus."
Com esses poucos depoimentos que poderiam se multiplicar, já basta para exemplificar a idéia de que a ciência não é inimiga da religião, nem tampouco a razão contradiz a fé. Além destas afirmações veementes, o estudo da pré-história mostra que o sepultamento dos mortos já existia naquele tempo, o que expressa e confirma que logo que a inteligência humana despontou naquele período, também se manifesta o respeito aos mortos e, conseqüentemente, está associado à noção da vida póstuma, vida com Deus! Aliás, nenhum animal irracional pratica tal sentimento. Portanto, desde que o homem é homem é religioso. O psicólogo Carl Gustav Jung (1875-1961) em uma das suas falas célebre diz: "Afastar-se de Deus é a mesma coisa que arrancar a própria essência do homem".

Metodologia
Este artigo procura fornecer ao leitor conhecimentos fundamentais acerca do embate da discussão entre ciência e religião. Já vimos que a divisão entre ciência e religião não descaracteriza nenhuma, mas sim, fortalece o seu trabalho e o seu objetivo que é o de fortalecer os laços humanos com respostas embasadas na razão e também na fé, levando a cada leitor a fazer reflexão da sua história e do seu caminhar na complexa rede da vida. Se entendermos a religiosidade como autêntica dimensão humana, cujo cultivo faz-se necessário para a plena realização do homem, então será óbvio a necessidade de contemplarmos também todas as culturas, entre povos de todos os tempos, e assumindo diversas formas de devoção, doutrinas e princípios éticos, buscando o sentido da vida e a transcendência em relação à morte. As religiões têm suas especificidades, mas tem também um patamar comum de moralidade e busca humana, onde é possível e urgente estabelecer um diálogo respeitoso e solidário entre a ciência e religião. Sendo a religião um fenômeno humano abrangente, que está entranhado em todas as áreas da cultura, alguns pontos devem ser vencidos na mentalidade que vigora no seio das duas, para que seja possível uma convivência mais harmoniosa e austera. (Pestalozzi, 1980, p.59) diz que:
"Conservação dos sentimentos piedosos da criança; elevação a religião e a virtude com plena consciência e conhecimento de seus deveres; estímulo a uma alegre atividade autônoma da criança; estímulo a pesquisa e a reflexão pessoal e através de tudo isso, promover a aprendizagem do conhecimento e das grandezas que a vida exige."
A trilha aberta até agora foi pouco seguida seja por preconceito, falta de preparo ou coragem. Rousseau com muita propriedade raciocinava:
"Ou todas as religiões são boas e agradáveis a Deus ou, se existe alguma que Ele prescreve aos homens e Ele pune os que desprezam, Ele lhe deu sinais certos e manifestos para que fosse distinguido e conhecido como única verdade. Esses sinais são de todos os tempos e de todos os lugares, igualmente acessíveis a todos os homens, grandes e pequenos, sábios e ignorantes. europeus, indianos, africanos, selvagens. Se houvesse uma religião sobre a terra fora do qual só houvesse penas eternas, e que em alguma parte do mundo um só mortal não fosse convencido dessa evidencia, o Deus desta religião seria o mais iníquo e o mais cruel dos tiranos." (Rousseau).
"Toda religião comporta uma ética e toda ética desemboca numa religião, na mesma medida em que a ética se orienta pelo sentido do transcendente da vida humana (Catão)." É necessário superar as errôneas e muitas vezes limitadas definições de ética e propor uma ética da consciência e da liberdade em lugar da ética da lei e da obrigação. Com isso pode-se dizer que a ciência faz parte da procura do transcendente que é comum a outras tantas atividades culturais: arte, música, literatura. Vê-se que a igreja não é e não pode ser alheia à atividade científica. Ela não teme o progresso científico, mas o estimula, o honra e favorece a melhor utilização do mesmo em benefício da humanidade. Toda conquista da ciência constitui uma maior possibilidade de aproximação entre os dois termos: Deus e o Homem. Não há avanço científico que esteja acima do ethos cultural e social e, a fortiori, toda ética deve falar a totalidade da existência humana; portanto, também a ciência e as suas conquistas particularmente as tecnológicas. A ética estimula os cientistas em sua árdua missão, especialmente em momentos de genialidade. As ciências constroem seu saber a partir do experimento e a ética, como discurso articulado da moral religiosa, faz seu caminho bebendo no poço da Revelação. Esta distinção de natureza, de objetos de métodos, suficientemente evidente em nossos dias, ainda não foi compreendida no alvorecer da ciência moderna. As ciências devem ser ouvidas com respeito, mansidão e deve-se selar um pacto sempre em favor do bem maior da humanidade, para vencer as ? certezas e os mortíferos discursos e falar daqueles que se acham donos da verdade. Quanto mais expressa é a ignorância, mais acredita ser possuidora da verdade. A atividade científica, exata e teológica, terá em conta a mesma moral e a totalidade da pessoa humana. Ética e fé cristãs não serão lesivas à atividade científica, mas esse colóquio pode ser momento propedêutico ao decifrar o enigma humano e o mistério de Deus.
Entende-se que ética e a moral tem um lugar muito importante no processo integral do ser humano. A moral é o modo como o homem se comporta representado em um conjunto de normas e regras, ou seja, o ato do ser humano. Segundo Vásquez (2005) a moral não é ciência, mas objeto da ciência, e, nesse sentido, é por ela estudada e investigada. Fé e razão caminham entrelaçadas, juntas, unidas em um só objetivo: fazer com que o ser humano cresça e se desenvolva com as suas capacidades cognitivas sendo respeitadas de forma plena na busca do seu crescimento interior sendo ambas valorizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio da discussão não deve nos assustar, pois quem tem fé e vontade de acreditar na instituição e na vontade de Deus, sabe esperar, entendendo que:
"Os verdadeiros deveres da religião são independentes das instituições humanas, que um coração justo é o verdadeiro templo da divindade, que em todos os países e em todas as seitas, amar a Deus acima de tudo e o próximo como a si mesmo é o resumo da lei, que não há religião que dispense os deveres da moral, que não há outros verdadeiramente essenciais a não ser este e que o culto interior é o primeiro desses deveres e que sem a fé, nenhuma verdadeira virtude existe" (Rousseau).
Na sua concepção o homem livre é aquele que concebe virtudes nas suas experiências, mas respeitando sempre os seus limites de compreensão buscando sempre a sua incansável chave para descobrir o significado da sua existência e a sua complexa inteligência que para ele está em Deus. A religião e a ciência tenta de alguma forma levar ao homem explicações que as vezes foge da compreensão dos incautos e maldosos, a fé não se opõe a ciência pois ambas caminham juntas, vez que juntas trabalham para o bem maior que é o desenvolvimento intelectual e espiritual de uma forma completa na sua essência e na sua complexidade, buscando assim, ambas, oferecer uma melhor qualidade de vida para que todos possam crescer com uma visão ortodoxa da sua existência buscando sempre o seu eu na profundidade da sua alma através do conhecimento e da sua espiritualidade.

Conclusão
A Ciência, em seu sentido mais amplo, abrangendo uma extensa gama de fenômenos, tanto da natureza como da sociedade, admite uma variedade de enfoques e métodos, cada um deles apropriados ao caráter de um objeto específico de investigação. No estudo, inúmeros sistemas e processos científicos, não surgem perguntas diretamente relacionadas à existência de Deus, ou a dimensão espiritual de vida. A religião, naturalmente, tem contribuído muito para a consolidação das noções separatistas. A crença na unidade da humanidade, com suas implicações de equidade e amor abnegado, é no final das contas, uma concepção religiosa da realidade. A reivindicação, então de que o discurso multifacetado de hoje sobre o desenvolvimento da ciência é de grande importância para o futuro da humanidade e que rumo deveria tomar no amor ao próximo é um assunto merecedor de séria consideração. As complexas e grandes diferenças, às vezes, entre o pensamento da ciencia e da religião deveriam sempre ter como centro o homem, sua felicidade e vida, vida plena do caráter, da dignidade, do respeito, igualdade, onde todos possam caminhar para um só destino. Rousseau diz que as ciências e as artes servem para tornar o homem sociável e para fazê-los amar a escravidão. E que na migração de religiões a guerra política torna-se também religiosa. O Deus de um povo não tem direito sobre outros povos. Rousseau analisa as religiões [...] ele fala do evangelho que reconhece a todos como irmãos, e não do mau uso que fizeram dele. Para ele a existência da divindade é um dogma positivo. A intolerância é um dogma negativo. Quando se procura algo que precisa da resposta do homem recorre-se a ciência, já aquela que foge a sua compreensão procura-se a religão, a fé o Divino. Assim, só nos resta à disposição da entrega e da procura. Isso se chama fé e em última análise, chama-se. Deus.

E-mail: manoel-felizardo@hotmail.com Artigo proposto para a complementação do Curso Integrado de Mestrado e Doutorado em Ciências da Educação pela Universidad San Carlos- PY.
Referências:
Bíblia Sagrada. Edição Pastoral, Paulus. 1990
Compêndio do Vaticano ll: Constituições, Decretos, Declarações. 29ed. Editoras Vozes. Petrópolis. 2000.
Dussel, Enrique. 1492: O encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade. Tradução de Jaime A. Clasen. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Título espanhol: 1492 El encubrimento Del outro. Hacia El Origem Del Mito de La Modernidad.
Filipo Carozzo. Coleção: Os Homens que mudaram a Humanidade. Vol. 7. Editora Três. 1974
Pestalozzi, Johann Heinrich Sämtliche Werk Und Brief. Kritische Ausgabe. Zurique, Orell Füssli, 1927 ? 1980. Vol. 25, Haupgrundsätzeder Methode.
Rousseau, Jean. Jacques. Euvres Complétes. Vol. 4. Paris. Gallimard, 1967.
Von Braun, Wernher. Fronteira do espaço. Editora Ibrasa. 1969.

Sites:
HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/marco_p%b3rcio_cat%c3%a3o
HTTP://www.apropucsp.org.br/revista/r27_r08.htm
HTTP://lido141.blogspot.com/2009/09/thomas-alva-edison.html
HTTP:em.wikipedia.org/wiki/William_M._Hartmann
http://www.consciencia.org/roussean.shtml