BICENTENÁRIO DA IMPRENSA BRASILEIRA - UMA JUSTA HOMENAGEM A HIPÓLITO MENDONÇA

Por HERÁCLITO NEY SUITER | 03/10/2009 | História



 

Em 1º de junho, comemoramos o Dia da Imprensa. Até 1999, a efeméride era celebrada em 10 de setembro. A mudança de datas, resultado de uma proposta do então deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS), aprovada pelo Senado em 3 de julho daquele ano, corrigiu uma impropriedade histórica: o 10 de setembro lembra o início da circulação da Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso no Brasil sob os auspícios da Corte portuguesa de D.João VI, recém-chegada ao Rio, escorraçada de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte. Era o jornal oficial, publicado três vezes por semana, recheado de notas da burocracia do reino, atos de governo e anúncios da Corte. Três meses antes, porém, em 1º de junho de 1808, havia saído o primeiro número do Correio Braziliense ou Armazém Literário (termo utilizado pelo caráter enciclopédico do jornal que tratava de vários assuntos além de matérias jornalísticas, propriamente dita), era editado Londres pelo então exilado brasileiro Hipólito José da Costa Furtado de Mendonça  e impresso nas oficinas de W. Lewis, Paternoster Row. O Correio era mensal, encadernado em brochura, e seu editor produzia sozinho as 100 páginas, em média, de cada exemplar. O periódico circulava clandestinamente no Brasil (onde chegava 40 dias depois da impressão) junto a um restrito público leitor – até porque era uma publicação considerada cara além de ser proibida e considerada ilegal no território brasileiro. Foi publicado regularmente até 1822, num total de 175 números.

 

Hipólito: um exemplo a ser seguido

 

            Nascido na Colônia do Sacramento, então domínio da Coroa portuguesa, Hipólito era filho de família abastada do Rio de Janeiro. Seu pai era Félix da Costa Furtado de Mendonça, alferes de ordenanças da Capitania do Rio de Janeiro e sua mãe Ana Josefa Pereira, natural de Sacramento.    Após Sacramento ser devolvido á posse da Coroa espanhola, em 1777, sua família instalou-se em Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde passou a sua adolescência. Fez os seus primeiros estudos em Porto Alegre, concluídos em Portugal, na Universidade de Coimbra, onde se formou em Leis, Filosofia e Matemática (1798).

 

            Recém-formado, foi enviado pela Coroa portuguesa aos Estados Unidos da América e ao México, para onde embarcou em 16 de outubro de 1798, com a tarefa de conhecer a economia desses dois países e as novas técnicas industriais aplicadas pelos norte-americanos. Viveu nos Estados Unidos por dois anos, onde, na Filadélfia veio a ingressar na maçonaria, o que influenciou a sua vida daí em diante.

 

            De volta ao reino, viajou a serviço da Coroa Portuguesa para Londres em 1802, com o objetivo declarado de adquirir obras para a Real Biblioteca e maquinário para a Imprensa Régia. Ocultamente, entretanto, os seus motivos eram o também de estabelecer contatos entre as Lojas Maçônicas Portuguesas e o Grande Oriente em Londres.

 

            Três ou quatro dias após o seu retorno ao reino foi detido por ordem de Diogo Inácio de Pina Manique, sob a acusação de disseminar as idéias maçônicas na Europa. Encaminhado às celas do Tribunal do Santo Ofício, onde permaneceu até 1805, logrou evadir-se para a Espanha sob um disfarce de criado, com o auxílio dos seus irmãos maçons. De lá passou para a Grã-Bretanha, onde se exilou sob a proteção do príncipe Augusto Frederico, duque de Sussex, o sexto filho de Jorge III do Reino Unido e grão-mestre da maçonaria inglesa.

 

Na Inglaterra, obtêm a nacionalidade inglesa com a ajuda do Duque de Essex, adquirindo ações do Banco da Escócia o que lhe outorgava tal direito de forma imediata. Casou-se em 1817 com Mary Ann Sheley e tiveram 3 filhos obtendo a condição de estrangeiro neutralizado, um estrangeiro residente com alguns direitos políticos. Através do Correio Braziliense ou Armazém Literário, defendeu as idéias liberais, entre as quais as de emancipação colonial, dando ampla cobertura à Revolução liberal do Porto de 1820 e aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil. Hipólito era simpático ao sistema da Monarquia Parlamentarista aos moldes do modelo político inglês.


*Texto do autor publicado na imprensa de Gurupi em maio de 2008.