Como se Datavam os Acontecimentos na Idade Média? Quem Foi o Inventor do Anno Domini? Qual Foi a Importância de Isaac Newton Nesse Contexto? 

 

 

Durante milênios, as pessoas datavam os acontecimentos do lugar onde estavam através dos anos do reinado do seu próprio rei ou por qualquer outro fato de importância local. O ano de 1900 d. C. pelas contas dos Chineses, foi o 26º ano de Kuang-Hsü, mas no Japão ainda se chamava o 33º ano de Meiji. Na Índia, os Hindus datavam por eras das dinastias, mas os Budistas faziam as contas a partir da morte de Buda (em 544 a. C.). 

Outros esquemas indianos ocasionalmente usados datam a partir de uma batalha ou reforma do calendário. Mas, tudo isso era muito complicado pelas variações entre o ano lunar e o solar. Cada antiga civilização (Roma, Grécia, Egito, Síria e Babilônia) teve o seu próprio esquema. Na Europa cristã a contagem moderna (a. C. ou d. C.) exprimia a crença em um evento único – a vinda de Cristo – que deu significado a toda história. Os Judeus tinham encontrado o seu evento único na Criação e o ano de 1900 correspondeu ao “Anno Mundi” judaico de 5661. 

Passaram séculos depois do nascimento de Jesus antes de o sistema atual começar a ser usado. Durante os primeiros séculos, alguns cristãos datavam a partir da “Indicação” múltiplos do período de 15 anos da tributação imperial da subida de Constantino ao trono em 312; outros, da era da Espanha (começando o ciclo da Páscoa com a conquista romana da Espanha em 38 a. C.), ou da era da Paixão (33 anos depois da Natividade). 

O inventor do Anno Domini foi Dionísio – o Pequeno – um monge, matemático e astrônomo que tentava descobrir como prever a data da Páscoa, a qual se admitia ocorrer no primeiro domingo após a lua cheia ou depois do equinócio de 21 de Março. A Páscoa sempre dominou o ano cristão, porque é a data a partir da qual todas as festas móveis são calculadas e a partir da qual também, começa o ano litúrgico. Mas o calendário cristão de Dionísio – numerando os anos a partir da data do nascimento de Jesus – viria a reger a maior parte do mundo cristão, exceto o Islã. Seu erro foi porque ele calculou que o nascimento ocorrera no ano de 753 após a fundação da cidade de Roma. 

Estudiosos bíblicos, guiando-se pelos Evangelhos, concordam que a Natividade deve ter ocorrido antes de Herodes; ou seja, “não depois do ano 4 a. C. Em 525 d. C. Dionísio propôs ao Papa o uso do “A.D.” (Anno Domini, ou Ano do Senhor) como sistema padrão de datação. O próprio Dionísio ficou pouco impressionado com a sua invenção que continuou datando suas cartas tendo como referência a “Indicação”. 

Gradualmente, através do uso das tabelas da Páscoa, o Anno Domini denotando a série contínua de anos a partir do nascimento de Jesus, destronou todos os outros. Mas, mantiveram-se muitas ambiguidades para atormentar os historiadores como por exemplo, quando começava o “ano”? As possibilidades incluíam o dia de natal, o dia de N. Senhora. (dia da Anunciação, 25 de março), a Páscoa (uma festa móvel) e o dia 1º de janeiro. 

A prática moderna de começar o ano novo em 1º de Janeiro assinalou o regresso a um costume pagão, pois era nesse dia que o ano romano começava, o que explica o motivo pelo qual a Igreja se opôs à observância desse dia. Mas, com o uso crescente dos almanaques, que faziam os seus cálculos a partir de 1º de Janeiro, e o estudo do direito romano, o 1º de Janeiro se tornou, em fins do século XVI, a data geral do começo do ano na Europa. Quando o Papa Gregório XIII fez a sua reforma do calendário em 1582, ele também se rendeu ao costume pagão. 

Por fim, em 1751, o pensador Philip Stanhope apresentou no Parlamento um projeto para adoção do calendário do estilo novo (deixara de ser o “gregoriano”) e, de acordo com essa lei, o começo do ano recuou de 25 de Março para 1º de Janeiro e o dia seguinte a 31 de Dezembro de 1751 (em vez de ser 1 de Janeiro de 1751) tornou-se 1 de Janeiro de 1752. A fim de corrigir o erro acumulado pelo antigo calendário Juliano, o dia após 2 de Setembro de 1752 passou a ser 14 de Setembro. 

Foi necessária a Revolução Comunista para convencer os Russos a abandonarem o calendário Juliano, o que acabaram por fazer em 1919. No Japão, o Imperador adotou – em 1873 – como parte do seu programa de ocidentalização, o calendário gregoriano. Na China, um complicado sistema combinou títulos de ano de reinado com o ano lunar, até ser instaurada a república em 1911. O ano solar foi adotado, mas as datas continuaram a ser contadas a partir da instauração da República. Só em 1949 o governo passou para o “estilo novo”, com o calendário gregoriano. 

Um denominador comum temporal dos acontecimentos humanos tornou mais fácil definir as latitudes da história e, dessa forma, descobrir que acontecimentos estavam ocorrendo em lugares diferentes ao mesmo tempo. Durante a maior parte da história humana nunca houve qualquer esquema uniforme de datar acontecimentos de um lugar relativamente aos acontecimentos de outro lugar.

É difícil imaginar como o passado foi fragmentário antes dos estudiosos de todo o mundo estabelecerem linhas de contemporaneidade mundial. Os cristãos ortodoxos, na ânsia de “iluminarem” os acontecimentos dos Judeus, Persas, Babilônios, Egípcios, Gregos e Romanos numa cronologia que exigia uma grande erudição para fazer perguntas embaraçosas. 

Um dos primeiros a tentá-lo foi o cartógrafo Gerandus Mercator que descobriu uma forma de representar a Terra numa superfície plana para conveniência dos viajantes no mar. Compreendeu também a necessidade de uma cronologia universal a fim de fornecer às pessoas suas coordenadas, enquanto exploravam o passado. Ele elaborou uma engenhosa “Cronologia” na qual os eventos ocorridos entre os Assírios, os Persas, os Gregos e os Romanos eram sincronizados pelas referências contemporâneas e eclipses lunares e solares. No século de Copérnico, não nos admira que outros também utilizassem a nova astronomia para ilustrar a história e, o famoso deles, foi o sábio italiano (Joseph Scalinger) foi reverenciado como o homem mais sabedor de todos os tempos, depois de Aristóteles. 

O devoto Sir Isaac Newton dedicou parte da sua vida a descobrir modos de utilizar a astronomia para confirmar a história bíblica. À medida que se tornou mais famoso tornou-se também mais religioso e quando morreu deixou milhares de páginas manuscritas sobre teologia e cronologia. Newton recusava-se a levar a sério a possibilidade de o nosso planeta ser muito mais velho do que a data bíblica (4004 a. C.) fixada pelo arcebispo Ussher, pois ele desejava confirmar a narrativa bíblica pela sincronização dos eventos das Escrituras com os registrados nas crônicas do Egito, da Assíria, da Babilônia, da Pérsia, da Grécia e de Roma. Os países mais orientais e exóticos (como a China) ainda não entravam nessa conta. 

Newton escolheu para acontecimento básico da sua cronologia a lendária viagem dos Argonautas, erigindo toda a estrutura de sua cronologia nos alicerces mais frágeis que se podia imaginar. A data da aventura comandada por Jasão em busca do Velo de Ouro – no seu barco Argo – foi um fato histórico e Newton podia situá-lo no tempo pela sua relação com fenômenos astronômicos. 

Daí, Newton elaborou um sistema de cronologia baseado no qual datou os principais eventos dos Gregos, Persas e Egípcios em relação às datas de Davi e Salomão da Bíblia, embora a sua cronologia tenha sido objeto de controvérsias internacionais. Um dos seus defensores afirmou que “os grandes eventos da Antiguidade jaziam havia muito como as ruínas de edifícios desmoronados e ocultos em entulhos, não obstante as muitas tentativas feitas para reparar. Mas, finalmente vemos a nobre estrutura erguer-se em toda a sua simetria e todos os materiais são recolocados no seu antigo lugar pela mão do mestre Sir Isaac Newton”.

 

Crente apaixonado das profecias bíblicas, Newton apontava para uma cronologia mundial prática baseada em eventos objetivos, verificados em todo o planeta. As pessoas podiam nunca chegar a um acordo quanto à data da Criação – muito nem acreditam na Natividade – mas todas poderiam compartilhar uma sintaxe da história. A cronologia moderna nasceu quando os antigos esquemas de nomear anos e épocas por monarcas (ou dinastias) foram destronados por um esquema de numeração comum. Só muito tarde na história do nosso planeta o “século” se tornou uma bitola de tempo largamente aceito. 

 

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