Artigo: A Bactéria multiresistente Acinetobacter Baumannii

Roberto Ramalho é jornalista, pesquisador, e funcionário público da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas

Acinetobacter é um gênero de bactéria Gram-negativa que pertence ao filo Proteobacteria.

Elas são do tipo não-móveis, isto é, as espécies de Acinetobacter são oxidase-negativas, e se apresentam em pares.

São importantes organismos no solo, onde contribuem na mineralização de, por exemplo, compostos aromáticos. Todavia, as Acinetobacter também são uma importante fonte de infecções hospitalares, quando atingem principalmente pacientes imunologicamente debilitados, estando presentes, principalmente, nas UTIS natais, pediátricas e onde os pacientes correm maior risco de morte.

Em entrevista concedida ao Portal do Governo de Alagoas ? www.agenciaalagoas.al.gov.br sobre o surgimento da bactéria multiresistente Acenitobacter Baumanni no Hospital Geral do Estado e no Hospital Universitário em Alagoas, a técnica da Vigilância Sanitária do Estado de Alagoas Cássia Sales, afirma que as infecções com o micróbio ocorrem com mais freqüência em pacientes graves hospitalizados, principalmente aqueles com idade avançada, doenças de base grave, imunossupressão, traumatismo importante ou queimaduras. Outros fatores de risco são os procedimentos invasivos, ventilação mecânica, hospitalização prolongada e administração prévia de antibióticos.

Segundo Cássia Sales, a bactéria multirresistente é antiga e está presente nos hospitais, mas ao longo dos anos devido ao uso indiscriminado de antibióticos foi se tornando resistente. Ela lembrou que existe tratamento para os pacientes que contraíram a infecção, exceto quando o doente é portador de uma doença grave, a exemplo de um acidente vascular cerebral em uma pessoa com mais de 80 anos. Segundo a especialista, muitos dos que morreram recentemente após contrair a bactéria, a exemplo dos recém-nascidos, não tinham condições de sobreviver, porque nasceram com a saúde comprometida, com problemas graves no fígado ou hidrocefalia, entre outras.

As espécies de Acinetobacter são geralmente consideradas não-patogênicas em indivíduos considerados pela medicina como saudáveis. No entanto, diversas espécies persistem em ambientes hospitalares e causam infecções graves que ameaçam a vida de pacientes comprometidos em razão da baixa imunologia, ou seja, em face de suas defesas orgânicas estarem suscetíveis a infecções.

O espectro da resistência aos antibióticos destes organismos junto com suas capacidades de sobrevivência os tornam uma ameaça a qualquer tipo de hospital como tem sido observado em ocorrências até mesmo em países altamente desenvolvidos como Os Estados Unidos, por exemplo. Um importante fator para seu potencial patogênico e com alto poder de infecção é provavelmente um modo eficiente de transferência de genes horizontal, embora esse tipo de mecanismo de ação até o presente momento tenha sido observado somente na Acinetobacter baylyi, uma espécie que vive no solo e nunca foi associada com infecções.

Num trabalho publicado por diversos médicos no site www.sbac.org.br com o título "Perfil de Resistência de Acinetobacter Baumannii a Antimicrobianos nas Unidades de Terapia Intensiva e Semi-Intensiva do Hospital Geral de Fortaleza" no ano de 2008, na parte referente ao resumo do artigo científico ficou constatado que as infecções hospitalares são as mais freqüentes complicações do tratamento médico nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e Semi - Intensiva (SI).

Segundo os pesquisadores, as bactérias do gênero Acinetobacter, especialmente Acinetobacter Baumannii, vêm ganhando importância nos últimos anos devido à maior participação em infecções graves e à selecionada resistência aos antimicrobianos.

De acordo ainda com eles, o objetivo do estudo foi verificar o perfil de resistência das cepas de Acinetobacter Baumannii, isoladas de amostras clínicas de pacientes internados no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). As bactérias foram isoladas em meios de cultura apropriados. A identificação e o teste de susceptibilidade aos antimicrobianos foram realizados através do aparelho de automação MicroScan®. 62 (14%) das 437 amostras positivas provenientes das UTIs gerais e as Semi-Intensiva, no período compreendido de janeiro a julho de 2004, e foram positivas para Acinetobacter baumannii. As topografias com maior número de isolados foram aspirado traqueal (49%) e sangue (29%). Em relação ao perfil de resistência foi observado que as cepas de Acinetobacter baumannii isoladas de cateter foram resistentes a quase todos os antimicrobianos, com exceção das quinolonas e imipenem (UTI-1).

No estudo, eles concluíram que existem cepas de Acinetobacter Baumannii multirresistentes aos antimicrobianos, inclusive ao imipenem, e que o aspirado traqueal foi o mais prevalente sítio de infecção por este patógeno.

A maioria das infecções ocorre em indivíduos imuno-comprometidos, e a linhagem do microorganismo Acinetobacter Baumannii é considerada a segunda bactéria não-fermentadora mais comumente isolada em espécies humanas.

A Acinetobacter é frequentemente isolada em infecções nosocomiais (é uma infecção adquirida em uma unidade hospitalar) e é especialmente prevalente em unidades de tratamento intensivo, onde tanto casos esporádicos como epidêmicos e endêmicos são comuns. Acinetobacter Baumannii é uma causa frequente de pneumonia nosocomial, especialmente de pneumonia associada à ventilação mecânica. Inclusive, ela pode causar diversas outras infecções incluindo as de pele e feridas, bacteremia e meningite, sendo a Acinetobacter lwoffi a principal responsável pela meningite. A Acinetobacter Baumannii pode sobreviver na pele humana ou superfícies secas durante semanas.

As espécies de bactérias Acinetobacter são por natureza muito resistentes a diversas classes de antibióticos, incluindo penicilina, cloranfenicol e frequentemente aminoglicosídeos.

Um crescimento dramático e vertiginoso na resistência a antibióticos nas linhagens de Acinetobacter vem sendo sistematicamente relatado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Atualmente os carbapenens são reconhecidos como o tratamento padrão-ouro e/ou de última escolha.

Nos anos de 2007 e 2008 ocorreu um surto da bactéria em diversos hospitais de Porto Alegre, provocando em 2008 a interdição da UTI de trauma dessa cidade. Da mesma maneira, também em decorrência de um surto o Hospital Homero de Miranda Gomes (Hospital Regional) em São José na Grande Florianópolis teve sua UTI interditada durante quase um mês em 2009.