Antônio Padilha de Carvalho

 A sociedade e um modo geral, tem uma idéia totalmente equivocada com relação à quantidade de água disponível para uso em nosso planeta. Em resumo: as pessoas acreditam ser infinitamente abundante a sua existência, sendo a sua renovação natural, todavia, a situação é bem diversa e bastante complicada.

Somente para se ter uma idéia, 97,30% da água do nosso planeta é salgada, apenas 2,70% é água doce, desse percentual, 2,70% estão congeladas em geleiras e calotas polares, sobrando assim, 0,63% de água doce, que também não são totalmente aproveitáveis, posto questões de ordem ambiental, inviabilidade técnica e situações econômico-financeiras.

Existe uma previsão da ONU, Organização das Nações Unidas, salientando que, caso persista o descaso e irresponsabilidades com os recursos hídricos, metade da população mundial não terá acesso à água saudável a partir do ano de 2025, portanto, daqui a treze anos.

Na verdade, esse problema já atinge hoje 20% da população da Terra, qual seja, mais de um milhão de pessoas. Esses mesmos estudos apontam que considerando o crescimento populacional à razão geométrica de 1,6% a.a., em 2053 poderá ocorrer o esgotamento da potencialidade dos nossos recursos hídricos.

Dessa forma, fica patente e claro a premente necessidade de pesquisas, estudos sistemáticos sérios, acompanhados de uma tecnologia ágil e eficiente no sentido da exploração equilibrada e racional desse bem, responsável pela vida em nosso planeta.

O nosso país é justamente aquele que possui a maior quantidade de água doce do orbe, contando com uma reserva de 12% a nível mundial.

Vivemos uma situação deveras diferenciada, vez que, enquanto na região da Bacia Amazônica (Norte e Centro-Oeste) temos o precioso líquido em abundância, o contrário ocorre no Nordeste Brasileiro, que sofre com a escassez e a falta de infraestrutura nas localidades da região. Já o Sul e Sudeste enfrentam conflitos de uso, onde a poluição e a degradação das bacias são visíveis e sentidas.

Há que parar para pensar. O nosso país detém 12% de toda água doce da superfície terrestre, no entanto, ocupa o vergonhoso 50º lugar no ranking mundial da saúde hídrica. Não estamos cuidando das nossas águas. Estamos nos envenenando através da sujidade que despejamos dentro dos rios, lagos e mar. Bebemos veneno por tabela.

 Os professores Daniel Ferreira de Carvalho e Leonardo Duarte Batista da Silva, desenvolveram um estudo sobre Hidrologia e enfocam que “o continente da América do Sul conta com abundantes recursos hídricos, porém existem consideráveis diferenças entre as distintas regiões nas quais os problemas de água se devem, sobretudo ao baixo rendimento de utilização, gerenciamento, contaminação e degradação ambiental.

Segundo a FAO a Argentina, o Peru e o Chile já enfrentam sérios problemas de disponibilidade e contaminação da água por efluentes agro-industriais. A situação brasileira não é de tranqüilidade, embora seja considerado um país privilegiado em recursos hídricos.

Outra questão refere-se ao desperdício de água estimado em 40% por uso predatório e irracional. Por exemplo, em Cuiabá o desperdício chega a 53% de toda água encanada e na cidade de São Paulo a população convive com um desperdício de 45% nos 22.000km de encanamentos, causados por vazamentos e ligações clandestinas”.

Antônio Padilha de Carvalho, é Geógrafo, e Presidente do CLUBE GEO – Instituto de Defesa do Meio Ambiente.