A prática da flauta doce na escola como instrumento educativo

Por Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes | 23/04/2010 | Educação

Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. rcleiamendes@yahoo.com.br

Susie Barreto da Silva. susiebarreto@hotmail.com

Resumo. Este artigo é parte integrante da dissertação de mestrado em educação-investigação educativa e, tem como objetivo apresentar a importância da prática da flauta doce na escola como recurso na aprendizagem musical do aluno. O propósito é de fomentar uma reflexão sobre a importância das da utilização da prática da flauta doce em sala de aula como recurso na aprendizagem musical do aluno.

Palavras-chave: flauta doce; aprendizagem musical

A pratica da flauta doce na escola tem inicio no século XX com Edgar Hunt em 1935 que introduzia o ensino de flauta doce nas escolas primárias inglesas, e em 1937 foi fundada a "Society of Recorder Player". Aos poucos a flauta doce ressurgia e os compositores começaram a escrever para o instrumento. Com o aumento do número de grandes intérpretes a flauta doce se tornou um instrumento de pesquisa e técnicas alternativas de execução.

A educação musical dispõe de recursos que podem ser utilizados no auxilio musical como, por exemplo, a flauta doce, o canto, a percussão, o violão entre outros. Geralmente a flauta doce é usada como uma alternativa para a inclusão do ensino instrumental na escola, pois sabe-se quea flauta doce é um instrumento de fácil aquisição e de custo baixo, além de, quepropiciar uma produção musical breve, devido à facilidade de aprendizagem. Essa visão de utilizar a flauta doce como forma de introduzir o instrumento musical na escola foge do objetivo que deve ser alcançado na aula de música, que é o fazer musical. Segundo Beineke (1997.p. 86)(...) "...questão que diferencia o trabalho com a flauta doce na escola é que a aula de música é o centro da proposta". A autora afirma que o trabalho com a flauta doce nas aulas de música tem objetivos mais profundos, ou seja, a de envolver o aluno musicalmente, despertando o interesse e a motivação pelo o ouvir, o aprender e praticar a flauta doce, atingindo o fazer musical.

Sabe-se que a flauta doce não é o único instrumento a auxiliar a educação musical, mas pode se observar que o trabalho com a mesma é diferenciado, começando com a manipulação do som a partir do manuseio e exploração da mesma resultando no fazer musical. Além disso, o ensino da flauta doce pode ser realizado com turmas de tamanho e faixa etária diversificada, o que não é possível em relação a outros instrumentos.

A flauta doce é usada universalmente nas escolas tradicionais de música no processo de musicalização dos alunos, com a finalidade de aguçar e educar a percepção auditiva dos mesmos e também como instrumento solo ou de conjunto. Nessa mesma perspectiva, Santos afirma que:

"Independente da forma ou contexto no qual acontece a educação musical, ela deverá sempre servir como elemento de expressão sociocultural, reafirmando e valorizando as características fundamentais do fenômeno musical presente nos múltiplos contextos existentes na sociedade, aproximando-se assim da realidade cultural e musical de cada grupo ou indivíduo inserido nos diferentes âmbitos culturais" (SANTOS, 2006, p. 29).[1][1]

A autora aborda sobre a educação musical num contexto sociocultural, em que a música é um instrumento de elo na diversidade cultural, que pode conduzir o individuo a participação em grupos de culturas e hábitos diferentes, respeitando e sendo respeitado, participando de um bem comum que é a música.

Beineke em seu artigo "O ensino da flauta doce na educação fundamental" inicia dizendo que, a música é uma ação inerente da atividade humana, e sua manifestação se expressa no fazer musical, e aborda alguns sub-itens que reforçam a importância da prática da flauta doce na escola como:

-Valorização das práticas musicais dos alunos – O aluno não é um vazio a ser preenchido, ele traz de casa algum conhecimento adquirido em suas experimentações e vivências diárias com o outro. Esse conhecimento deve ser aproveitado na socialização com os outros alunos, a fim de que as diversidades culturais sejam socializadas e expandidas. Esse conhecimento será de grande valia na atividade pratica com a flauta doce, pois o aluno terá condições de sugerir músicas, ritmos, que podem ser utilizados em aula na aprendizagem.

-Priorizando a fluência musical – Deve-se levar em conta que o ato criativo do aluno permite uma aprendizagem mais significativa e positiva. Nas atividades com a flauta doce deve-se deixar fluir a capacidade musical do aluno, pois atividades repetitivas, técnicas que visem a memorização são cansativas e monótonas, não permitindo a fluidez do pensamento e a expansão cultural do aluno.

-Por uma atitude criativa perante as práticas musicais – O ato de criação permite a expressão singular e livre do aluno. È uma ação que afirma o aluno como um ser ativo e pensante dentro do processo de ensino aprendizagem da prática musical.

-A realidade do aluno e a motivação para aprender – A motivação do aluno vem ao encontro de suas necessidades, ele tem interesse em aprender coisas que venham a ter sentido em sua vida, que venham preencher alguma lacuna. Sem essa motivação, não haverá o entendimento musical, será apenas uma aprendizagem sem sentido.

-O compromisso com a diversidade – Deve-se levar em conta na aprendizagem musical que os alunos são diferentes em vários sentidos, tem desejos e interesses diversos. Há de se pensar nessa diversidade e procurar adequar as atividades aos interesses dos alunos, buscando respeitar a cultura e o conhecimento de cada um, a fim de proporcionar uma aprendizagem favorável ao desenvolvimento total do aluno.

-Dinâmicas de grupo na sala de aula – Devem-se elaborar atividades que envolvam todo o grupo, organizando as equipes de forma que sejam contempladas as potencialidades dos alunos, a fim de que um possa aprender com o outro. Em grupo os alunos terão uma experiência única, pois dessa forma já terão a noção de apresentação em público. O trabalho em grupo permite desenvolver o sentido de respeito ao fazer do próximo, ao espaço do outro, pois o bom desempenho do grupo depende da união de todos.

-Flauteando pelos cantos do Brasil:- idéias de repertorio para o ensino da flauta doce na escola – Deve-se promover uma experiência bem diversificada de conhecimentos culturais aos alunos, nesse sentido, é preciso utilizar conteúdos e temas do folclore brasileiro, folguedos, danças, ritmos populares e outros, a fim de que o aluno amplie seu universo cultural, com uma experiência rica e desafiadora.

Enfatizando esses itens a autora reforça a importância da flauta doce na escola e em especial no ensino fundamental, por ser de grande importância para o desenvolvimento pessoal, social e cultural do aluno.

Beineke ressalta que:

"A música ajuda a demarcar "territórios culturais" (Silva, 1996), identificando grupos e formas de vida. Trabalhando com adolescentes, por exemplo, pode-se observar a quantidade de rotulações que eles dão a música, como "música de criança", "música de velho", "música de amor", "música de gay", "música de igreja", "música de dança", "música para dormir", entre tantas outras (...)" (Beineke (2001, p.61) apud. Bréscia)

Nesse contexto observa-se o uso da música na demarcação e caracterização de território num contexto social. Percebe-se também a diversidade em que a caracterização da música é abordada pelos adolescentes direcionando-a por segmentos de grupos. Segundo Joly "a música também é um meio de fazê-las participar das atividades de grupo e de incluir nesse grupo crianças com diferentes graus de desenvolvimento, aproveitando no grupo o potencial de cada um". Sendo assim, pode-se dizer que a música pode agir como mediadora na inclusão social e diversidade cultural do individuo sem que ele perceba.

Observa-se que a flauta doce é um instrumento que tem boa aceitação no contexto de grupo, onde os participantes escolhem o repertorio musical de acordo com a identidade do mesmo. Esse é um fator que deve ser observado e aproveitado nos grupos, já que o grupo tem finalidades e desejos em comum.

A prática da flauta doce nas escolas tem sido motivo de pesquisas como, por exemplo, "o ensino da flauta doce na educação fundamental: a pesquisa como instrumentalização da prática pedagógico-musical" de Viviane Beineke, além da autora mencionada outros autores tem pesquisas sobre esse como, por exemplo: Liane Hentschke e Jusamara Sousa, doutoras em educação musical.

A prática da flauta doce é envolvente, e de acordo com a proposta a ser alcançado com os alunos pode ser breve.A produção musical e o envolvimento do aluno com o instrumento é uma interação corpo a corpo, como se fosse um desafio do aluno em produzir e se sentir produzindo. Esse contato com o instrumento musical é sem dúvida uma experiência inovadora para quem nunca teve a oportunidade de ter contato com a música de maneira tão próxima e real.

Embora a prática da flauta doce traga inúmeros benefícios que contribuem para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional do ser humano como foi falado anteriormente, percebe-se que são poucas escolas públicas que buscam este instrumento como ferramenta no auxilio da educação escolar. Infelizmente são poucas as escolas que a adotam esse instrumento como recurso na educação musical e aprendizagem do aluno.

A produção musical nas aulas de flauta doce é sempre uma descoberta surpreendente. Há alunos que apresenta indiferença ao instrumento, outro que participam, mas sem muito envolvimento e outros que se interessam tanto que não esperam o momento do contato com o instrumento orientado pelo professor e começam a produzir, ou seja, começam a tocar a partir da experimentação do som, ou aprendendo com os manuais que trazem músicas do folclore brasileiro e outros estilos que são conhecidas dos alunos como, por exemplo: parabéns pra você, asa branca, cai-cai balão, luar do sertão, entre outras, que fazem parte de um repertorio no encarte que acompanham a flauta doce na aquisição da mesma. Outros tiram músicas de ouvido, que para Beineke "(...) é também essencial que eles sejam incentivados a tocar de ouvido, tirando músicas que fazem parte de suas vivências cotidianas". A autora ressalta a importância da exploração do instrumento nas canções tiradas de ouvido a partir da vivencia dos alunos, ou seja, as músicas que ele ouve regularmente, que fazem parte do seu contexto social, são as que mais lhe interessam produzir e socializar com os colegas.

Observa-se que a flauta doce nas mãos dos alunos faz com eles despertem para tocar e mostrar a sua produção musical, e o que é interessante "aprende" a partir da curiosidade e o mais interessante, sozinho! A partir daí, o aluno motiva o colega a tocar também, e passa a assumir o papel de colaborador interagindo com o outro, levando-o a socialização de conhecimento e aprendizado. E com isso cresce o interesse musical, recorre ao professor para mostrar o que conseguiu tocar, experimenta sons, e tira música de ouvido. Essas capacidades auditivas podem ser adquiridas e devem ser estimuladas no processo de educação musical, de forma que o aluno experimente, explore, se envolva chegando ao fazer musical.

Percebe-se nas salas de aula que antes, o aluno nem sabia que música podia ser aprendida na escola, que está no seu dia-a-dia, e muito menos que convive com ela. De repente, se depara com a música real, com códigos, símbolos, e ainda mais, com o instrumento flauta doce, que para ele é só um brinquedo, e num primeiro contato é novidade, e como tudo que é novidade assusta um pouco. Alguns alunos não se identificam com o instrumento, mas, com o passar dos dias nesse contato direto conseguem manusear, tocar, explorar e ainda mais, produzir sons que antes não havia "percebido" ao seu redor. Com isso vai descobrindo aos poucos que com a prática da flauta doce ele descobre um mundo novo, sonoro, cheio de surpresas no campo da música, fazendo com que se desenvolva como pessoa.

A prática de um instrumento musical para o individuo pode ser comparada à descoberta do próprio corpo, pois o contato físico com o instrumento pode expandir a relação da pessoa com a música estimulando o gosto pela mesma, desmistificando os tabus de que apenas os bem dotados conseguem tocar um instrumento. Nesse contexto é inserida a flauta doce estreitando o caminho da música com a prática e o fazer musical. E com isso, o aluno desenvolve, além da habilidade musical, a auto-estima, a criatividade e a comunicação. Sendo assim, pode-se dizer que o uso da música no espaço escolar se faz necessário ao desenvolvimento do aluno.

É também nesse espaço escolar que acontece a socialização e interação dos alunos, no contato direto com os colegas acontece à troca de saberes e mostra da aprendizagem prática, seja no intervalo do recreio, na entrada ou saída da escola enquanto aguardam seus responsáveis ou até mesmo enquanto esperam o colega que segue o mesmo percurso que o seu de volta pra casa. Enquanto o aluno está tocando ou socializando a sua prática musical, ele direciona seu pensamento apenas para esse fim evitando situações como "brincadeiras" desastrosas na escola. A música em qualquer contexto quando bem trabalhada desenvolve o raciocínio, criatividade e outros dons e aptidões, por isso, deve-se aproveitar esta tão rica atividade educacional dentro e fora da sala de aula. Pois a música torna-se uma fonte para transformar o ato de ensinar e de aprender em atitude prazerosa no cotidiano do professor (educador), e do aluno.

Segundo Damaceno "a prática pessoal de algum instrumento ou canto contribuem para o equilíbrio físico, emocional, e mental do individuo [2][2]. Diante dessa afirmação pode-se dizer que a prática instrumental leva o individuo a ter sensações que elevam o sentimento, podendo chegar ao equilíbrio de suas emoções. Então porque não oportunizar o aluno a uma prática instrumental na escola? Segundo Mársico[3][3] (1982, p.148) "[...] uma das tarefas primordiais da escola é assegurar a igualdade de chances, para que toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o ambiente sócio-cultural de que provenha". É uma afirmação que vem reforçar a importância da prática da flauta doce na escola, enfatizando a igualdade de chances, pois a educação tem como meta desenvolver em cada indivíduo todas as potencialidades de que é capaz.

Acredita-se que através da prática da flauta doce os alunos podem desenvolver uma atitude mais aflorada quanto ao conceito e a concepção da existência de cidadania como forma de valor social manifestado pelos hábitos e atitude em sala de aula. Acredita-se ainda que os alunos se sentem mais responsáveis quando solicitados à execução de tarefas com responsabilidades, podendo ser notado de imediato as modificações que podem ocorrer desde a aparência pessoal e, em especial na valorização da auto-estima, assim como, o elevado interesse em aprender o novo, a participar efetivamente do trabalho escolar, constituindo-se em um estado de euforia, em adquirir conhecimentos sobre a produção musical além do ministrado em sala.

O diagnóstico inicial do desconhecimento dos alunos sobre a linguagem musical perpassa pela total ignorância dos códigos da música, e até mesmo do próprio corpo como instrumento sonoro musical. Essa descoberta do corpo enquanto reprodução sonora muito interessa aos alunos, pois inicia uma exploração sonora pessoal de maneira descontraída, nessa atividade o aluno solicita o outro nesta descoberta, promovendo assim a socialização nas aulas.

O contato com a música em sala de aula pode se dá de forma gradativa, iniciando com observação de sons do ambiente (natural e mecânico), descobrindo o corpo e objetos existentes na sala de aula para a reprodução sonora, por exemplo, a voz, as mãos, dedos entre outros, o lápis, a caneta, borracha, carteira, cadeira, caderno etc. Pode ser realizada a execução de células rítmicas a partir de sílabas acentuadas da língua portuguesa (palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas) interagindo com o ritmo e envolvendo movimentos do corpo. Num segundo momento pode-se iniciar a apresentação da linguagem musical escrita (pauta, claves, notas, figuras etc.).

Em um terceiro momento pode-se observar o contato com a flauta doce, apresentando o instrumento e explorando-o gradativamente desde a sua estrutura física até a sonora, onde a sonoridade da flauta pode ser explorada livremente com criatividade. Pode-se utilizar movimentos do corpo para se expressar neste momento de descontração e improviso, com a flauta doce. Em seguida, pode-se orientar quanto às técnicas de execução da flauta doce como: posicionamento das mãos, dedos, embocadura (posicionamento dos lábios na flauta) postura corporal, respiração, sopro até alcançar à execução propriamente dita da flauta doce. Percebe-se a necessidade de estimular o aluno, desafiando-o a mostrar o seu potencial, e a prática da flauta doce é uma das chances do jovem se sentir produzindo.

Segundo Loureiro:

"São muitos os problemas pela área da educação musical. Dentre eles, consideramos o de maior importância a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante no currículo escolar". Loureiro (2003, p. 109)

Portanto, a educação musical na educação escolar vem para contribuir, somar no fator aprendizagem. Tanto que o ensino musical na escola é diferenciado, é realizado de forma mais informal, voltado para a realidade cultural e social do aluno envolvendo a sensibilidade, as emoções, a compreensão da linguagem musical, a socialização, e formação do individuo como pessoa.

(Gainza 1988 apud Chiarelli e Barreto),ressalta que:

"As atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos: Físico: oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas à instabilidade emocional e fadiga; Psíquico: promovendo processos de expressão, comunicação e descarga emocional através do estímulo musical e sonoro; Mental: proporcionando situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão". (Gainza 1988 apud Chiarelli e Barreto).

Pelo que foi exposto acima percebe-se que o aspecto físico trabalhado na músicacom exercícios rítmicos, canções melodiosas e execução de peças descontraídas que exercem função relaxante sobre as tensões. Já no aspecto psíquico a contribuição da música se dá por meio de atividades rítmico-sonoras estimulando o individuo a reagir, se expressar ou descarregar suas emoções. E no aspecto mental a música também auxilia como estimulo, sendo de forma apaziguadora em diversas situações.

Para que ocorra a melhoria no desempenho escolar do aluno, vários fatores devem ser observados. A música entra nesse contexto como uma alavanca que deverá contribuir positivamente nesse processo.

A escola, enquanto espaço institucional para transmissão de conhecimentos socialmente construídos, para receber os alunos, tem também a responsabilidade de direcionar o educando, a buscar conhecimentos, socialização, e envolvimento com novas habilidades. É nesse contexto que entra a aplicação da música na escola que além de proporcionar ao aluno o contato com os aspectos particulares inerentes a própria música que são importantes na aprendizagem do mesmo, pode ser utilizada também como um poderoso instrumento para desenvolver a sensibilidade musical, despertando fatores relevantes como a concentração, memória, coordenação motora, socialização, acuidade auditiva e disciplina.

O aluno que aprende a desenvolver a concentração consegue prestar mais a atenção naquilo que lhe esta sendo ensinado, absorvendo com maior facilidade o conteúdo, ou seja, tem maior facilidade em aprender, se apropria de uma habilidade tão importante quanto, que é a memória. Segundo Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que "[...] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades lingüísticas nas crianças". O aluno concentrado na explicação do conteúdo abordado pelo professor certamente terá aguçada sua memória.

No aprendizado musical também usa-se a expressão corporal, são realizados movimentos corporais integrando som e ritmo, nessa atividade que trabalham a coordenação motora do aluno, esse exercício desenvolve um equilíbrio corporal harmonioso. Que também leva a socialização dos alunos.

A socialização é um fator relevante para o aprendizado, trata-se da relação do aluno com o outro. Segundo Faria (2001, p. 24), "A música como sempre esteve presente na vida dos seres humanos, ela também sempre está presente na escola para dar vida ao ambiente escolar e favorecer a socialização dos alunos, além de despertar neles o senso de criação e recreação". O autor afirma que a música dentro da escola permite um ambiente mais vivo, mais acolhedor, pois envolve os alunos e com isso, promove a integração e a comunicação entre eles, favorecendo a socialização.

Sendo assim, pode-se dizer que o professor que se apodera da música na aprendizagem pode transformar a sua sala de aula em um lugar de convivência prazeroso e agradável. E com isso, a música favorece a socialização entre os alunos, pois permite uma verdadeira interação musical, em que eles conversam, trocam idéias, cantam, tocam e constroem melodias musicais juntos, ou seja, se comunicam entre si, construindo um momento de prazer e descontração.

Quando se trabalha a música com os alunos, desenvolve-se a acuidade auditiva dos mesmos, pois os aspectos sonoros são bem enfatizados. Os alunos cantam, ouvem canções, aprendem a prestar atenção na melodia, com suas nuanças, sons graves e agudos, intensidade, timbre etc. Com a continuidade desses exercícios o aluno passa a desenvolver uma audição mais aguçada, mais apurada, mais fina. Quando se fala em ouvir e entender música, Camargo (1999), diz que "existem três aspectos diferentes para o ato de ouvir música", É normal se dizer que ouve música, mas segundo o autor pode-se ouvir, escutar e entender música. Diante dessas informações se faz necessário ressaltar cada um desses aspectos segundo mencionados pelo autor:

"- ouvir: perceber sons pelo ouvido (ato sensorial)", ou seja, o som é percebido, mas sem interesse aparente, como por exemplo, o som de vozes de pessoas em um local livre, ou uma música tocando enquanto se faz compras, geralmente as pessoas não param para dar atenção a essa música, ouve-se, as vezes até cantarola, mas nada de importante. "- escutar: dar atenção ao que se ouve (ato de interesse)", ou seja, ficar atento ao que lhe é explicado ou exposto.Geralmente no ato de escutar observa-se e presta-se atenção a uma conversa que é de interesse da pessoa, ou a uma orientação que se deve ser seguida. "- entender: tomar consciência do que se ouve". Ou seja, absorver, tomar para si o que lhe é dito assimilar de fato o que está senso escutado. Nesse contexto pode ser mencionado o aluno em sala de aula observando as explicações do professor no discurso de alguma disciplina ou orientação.

O englobamento dos três aspectos de ouvir música chama-se de "percepção" musical. Segundo Duarte[4] "entende-se como percepção o processo através do qual o ser humano organiza e vivência informações, estas basicamente de origem sensória". Segundo o autor a percepção acontece quando o individuo ouve, entende e compreende o que lhe é apresentado.

Além da percepção, para se aprender música de forma consistente a disciplina se faz necessária nessa aprendizagem, pois para alcançar um resultado favorável o aluno deve ter consciência que só conseguirá aprender se tiver disciplina nos exercícios, pontualidade, participação ativa, compromisso e etc. De acordo com (Tusler 1991 apud Bréscia) diz que "por meio da música a criança se autodisciplina, pode expressar-se, sentir-se aceita, comunicar-se mais profundamente com seus colegas". A autora afirma que a disciplina torna-se algo consciente e permanente para o aluno, pois aprende que somente dessa forma é possível aprender e interagir com respeito com os colegas de sala e demais convivência.

O aluno que tem disciplina possui facilidade de se apropriar dos fatores da concentração, memória, coordenação motora, socialização e acuidade auditiva no desenvolvimento do senso musical. Pois o aluno vai levar consigo essa disciplina para as demais atividades, que vai orientar seu comportamento na comunidade escolar. E se a escola orienta o aluno quanto a disciplina de maneira descontraída, por exemplo, através da música, o aluno passa a ter disciplina, até de maneira inconsciente, ele pratica a disciplina sem a necessidade de conceituá-la.

Muitas vezes o aluno vai para a escola sem vontade, às vezes obrigados pelos pais ou familiares, outras vezes para preencher o tempo ou até mesmo só para encontrar os colegas. Percebe-se que o ambiente escolar não cativa o aluno a ponto de despertar nele o interesse de estar na escola. Nesse sentido, a educação musical a partir da prática da flauta doce proporciona a motivação necessária para despertar o interesse e o desejo do aluno em estar na escola.

A música no contexto escolar tem a faculdade de contribuir de forma positiva para um ambiente saudável, agradável, estimulante, prazeroso e que favoreça a aprendizagem do aluno. Isso faz com que a falta de vontade do aluno e o esforço de ir a escola seja compensado com a inserção de um elemento que não só é cativante como importante para a aprendizagem total do mesmo. Enfim, a música é um instrumento facilitador do processo de ensino aprendizagem, portanto deve ser possibilitado e incentivado o seu uso em sala de aula. Tocar um instrumento, seja solo ou em conjunto, desenvolve no indivíduo sua autonomia, senso de cooperação e sentido de responsabilidade. A prática musical desenvolve naturalmente uma atitude de valorização da vida, da família, e da comunidade.

Para concluir a importância da prática da flauta doce no ambiente escolar assim como a relevância de sua aplicabilidade em outros ambientes de aprendizagem como: grupos sociais, em comunidades, na igreja, associações, etc. na busca de contribuir ao desenvolvimento total do individuo, será apresentado o conto denominado "O flautista de Hamelin", que é uma narração interessante, que retrata a importância do som da flauta e o fascínio e o encanto que o som produz nas pessoas.

Esse conto foi escrito pelos irmãos Grimm, que relata um fato ocorrido na cidade de Hamelin na Alemanha em 26 de junho de 1284. Esse conto faz uma alusão ao efeito do som da flauta sobre os ratos e as crianças da cidade de Hamelin.

Uma cidade chamada Hamelin estava infestada de ratos, o prefeito e os moradores da cidade estavam desesperados com o acontecimento, então resolveram buscar soluções para resolver o problema que era a infestação dos ratos, então surgiu um homem com uma flauta e disse que acabaria com os ratos se fosse pago pelo serviço, o trato foi feito.

No dia seguinte quando amanheceu começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente, e com isso levou os ratos a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade. Por aquele lugar passava um rio e, os ratos ao tentando acompanharem o flautista na travessia do rio, morreram afogados.  E para a surpresa da população, os ratos sumiram da cidade. Com isso a vida da cidade voltou ao normal.

No outro dia, o flautista retornou a cidade de Hamelin para receber o seu pagamento no qual haviam acordado entre eles, e qual foi a sua surpresa? O prefeito e seus subordinados não quiseram pagar o flautista, expulsando-o e dando-lhes a costa. O flautista revoltado por ter sido enganado pelos moradores da cidade, no dia seguinte tocou uma doce melodia várias vezes, insistentemente, mas, só que dessa vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, não escutavam as vozes dos pais suplicando para que voltassem para casa.iam atrás dos passos do estranho músico que os levou para longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram. A cidade ficou triste e, por mais que se procure não se encontra nem um rato e nem uma criança. Nessa história a melodia produzida pela flauta foi utilizada para encantar tanto os ratos como as crianças. É um pequeno conto que relata com propriedade o grande fascínio produzido pelo som da flauta.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

BEINEKE, Viviane. (2001) Funções e significados das práticas musicais na escola. Belo Horizonte: Presença Pedagógica, vol.7, nº40.

BEINEKE, Viviane. (1997) A educação musical e a aula de instrumento: uma visão crítica sobre o ensino da flauta doce. Santa Maria. Expressão, ano 1, n.1/2, p. 25-32.

DAMACENO, Ana Maria N. Gorski.A Música e Seus Efeitos no Indivíduo

http://www.musicaeadoracao.com.br/efeitos/musica_efeitos_gorski.htm

GAINZA, V. Hemsy de.(1988) Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus.

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Susie Barreto da Silva. Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em música (UEPa) - Especialização em Educação Musical (CBM), Mestrado em Educação(UCA).Doutorado em ciências da educação (UAA) – em andamento.

susiebarreto@hotmail.com

susiesilva@ig.com.br

Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música (UEPa)- Especialização em Informática na Educação (PUC-MG)– Mestrado em Educação(UCA).Doutorado em ciências da educação (UAA) – em andamento.

rcleiamendes@yahoo.com.br

rcleia@hotmail.com



[1][1]Carla Pereira dos Santos.Ensino Coletivo de Instrumento: uma experiência junto ao grupo de flautas do Projeto Musicalizar é Viver. In: XVI Encontro Anual da ABEM/ Congresso Regional da ISME na América Latina 2007, 2007, Campo Grande. Educação Musical na América Latina: concepções, funções e ações. Campo Grande: Editora da UFMS, 2007.

[2][2]Ana Maria N. Gorski Damaceno. A Música e Seus Efeitos no Indivíduo

http://www.musicaeadoracao.com.br/efeitos/musica_efeitos_gorski.htm

[3][3] Leda Osório Mársico. A criança e a música: um estudo de como se processa o desenvolvimento musical da criança. Rio de Janeiro: Globo, 1982.

[4][4] Milton Joeri Fernandes Duarte, Mestre e doutorando pela Faculdade de Educação (FE) da Universidade de São Paulo (USP). Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.